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“O Futuro do Mercado Imobiliário”

A CNN Portugal reuniu hoje, no Salão Imobiliário de Portugal (SIL), diversos profissionais do sector imobiliário que, numa mesa redonda, discutiram o futuro do sector. Dificuldades no acesso à habitação, desequilíbrio entre a oferta e a procura, o peso do quadro fiscal. mobilidade urbana e sustentabilidade foram os temas basilares desta conversa.

Esta mesa redonda contou com a participação de António Ramalho, vice-presidente da Fundação AIP, Paulo Caiado, presidente da APEMIP, Hugo Santos Ferreira, presidente da APPI, Pascal Gonçalves, do Grupo Libertas, e Ricardo Sousa, da Centruy 21, e com a moderação de Pedro Santos Guerreiro, da CNN Portugal.

Na óptica de Hugo Santos Ferreira, o sector imobiliário está, neste momento, a ser afectado por três problemas estruturais: um difícil acesso ao mercado habitacional, um desequilíbrio entre a procura e a oferta e um quadro fiscal pesado que constrange a construção de nova habitação.

“Os projectos actuais não são viáveis para a classe média”, afirmou o presidente da APPI, acrescentando que o “excesso de carga fiscal” que se abate sobre torna difícil a actuação dos promotores no mercado da habitação acessível. Para fazer face a este constrangimento, argumentou ser fundamental garantir que o IVA da construção de nova habitação abandone o valor actual de 23% e se cimente nos 6% que têm sido prometidos pelo Governo.

Esta é uma ideia também partilhada por Paulo Caiado, que, contudo, considera que “para fazer face àquilo que é a emergência e a escassez habitacional, uma redução de 23 para 6 não é, por si só, suficiente”. Aponta, como possível solução “a ambição de pensar numa isenção, obviamente com o compromisso de que estaremos a falar em futuras soluções habitacionais que têm de ter preços controlados”.

Para o presidente da APEMIP, esta seria uma opção viável para permitir a entrada dos jovens no mercado: com “o IVA reduzido de 23 para 6, e a eventualidade de se utilizar uma isenção na estrutura fiscal e na construção, com o compromisso de preços controlados, poderemos ter aqui soluções habitacionais direccionadas para um segmento de população” que está a ser ignorado.

Investir em habitação pública é, para António Ramalho, um problema cuja resolução é crucial para colmatar a actual crise habitacional que afecta os portugueses. “Temos menos de 2% em habitação pública, que tem que ser incrementado, porque a média da Europa é 7%, uma média de uma Europa bem mais rica que nós”, argumentou, acrescentando que “precisamos do dobro das casas que temos. Menos de 4% a 5% [de habitação pública] é impossível para trabalhar as franjas excluídas deste mercado”.

O vice-presidente da Fundação AIP salientou que é ainda essencial um “accountability estatístico” que apure o número exacto de casas devolutas que poderão ser utilizadas para edificar habitação para aqueles que dela mais necessitam.

“As pessoas compram e vendem casas não por uma opção. É uma necessidade para a maioria de nós”, constatou, por sua vez, Ricardo Sousa, que considera ser fundamental “pensar as mudanças estruturais e o planeamento estratégico para o nosso país, para termos cidades e planearmos as nossas cidades no futuro”.

O profissional da Century21 afirmou ainda que é impossível pensar as cidades do futuro sem ter em consideração a mobilidade urbana, sendo necessário desenvolver “planos directores municipais pensados e coordenados entre os diferentes conselhos das diferentes áreas metropolitanas; porque hoje o desafio que nós encontramos, e os agentes imobiliários encontram, [é o facto de] termos uma família que quer comprar, termos uma família que precisa vender, e a alternativa possível para essa família é se calhar estar a 30, 40 quilómetros de distância do seu ponto de trabalho, para ir em encontro das suas necessidades pessoais e do seu poder de compra”.

Para dar resposta a estas necessidades das famílias “temos que reforçar a frequência dos nossos transportes públicos, nomeadamente a ferrovia, que ampliar as linhas de metro. Temos que criar, de facto, soluções de mobilidade urbana que permitam aproximar as pessoas das casas que estão disponíveis no mercado”, rematou.

E como não é possível falar de mobilidade urbana sem se mencionar a necessidade de desenvolver soluções sustentáveis, Pascal Gonçalves afirmou “o parque habitacional usado, antigo, é muito pouco eficiente energeticamente. Portanto, ao renová-lo, vai ser preciso fazer um grande investimento na eficiência energética”, que, para si, “é bastante interessante na construção nova”.

“Obviamente que a construção nova emite CO2, nomeadamente na estrutura do botão, no aço, há muito CO2 ali”, reconhece o profissional da Libertas, “mas rapidamente se vai buscar essa diferença ao longo da vida útil. E, portanto, de facto, eu diria que, nos dois casos, já não podemos olhar para o problema da habitação sem olhar para a eficiência energética também”, argumentou.

Em relação ao futuro do sector imobiliário nacional, Pascal Gonçalves afirmou ainda que “há, efetivamente, aqui uma grande potencialidade, quando falamos do futuro de imobiliário em Portugal, em nós nos tornarmos um país mais cosmopolita, mais acolhedor e, para isso, a habitação”. Para isso reconhece que “a criação de condições para a habitação é muito importante”, sendo algo que, definitivamente, irá “trazer prosperidade ao país”.

DR Foto: Headway na Unsplash