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União Europeia vive uma “democracia de pé atrás”

O almoço-debate do International Club of Portugal que decorreu no dia 6 de Setembro no Double Tree by Hilton Lisboa – Fontana Park, teve como orador Paulo Rangel, eurodeputado, vice-presidente do Grupo PPE, ex-líder parlamentar e ex-secretário de Estado. No centro das atenções esteve a questão “A Europa e os novos equilíbrios globais”.

Paulo Rangel considera que existe um “sentimento de crise essencial da União Europeia (UE)” que se deve a uma “ruptura do princípio da confiança”, da confiança entre os Estados-membros da UE que se “rompeu ao longo dos últimos 10 anos”, nomeadamente “a partir da grande recessão de 2008/2009”.

É nesta altura que, como diz, se passou da “diplomacia da mão à frente para a diplomacia do pé atrás” e em que se passou a chamar a mesma realidade de duas formas (geográficas) diferentes: nos países do Norte da Europa é apelidada de “crise das dívidas soberanas” e nos países do Sul é a “crise da Euro ou da zona Euro”.

Uma outra “linha de tensão” europeia prende-se com a questão das migrações que veio colocar em xeque a “ideia de entidade europeia”. Paulo Rangel salienta a este propósito que “a União Europeia tem um défice democrático”, sendo que a “alternativa que é dada à UE é o reforço dos Estados nacionais sem independência de tribunais, sem pluralismo de opinião e sem liberdade de expressão”. Por outro lado, há também a percepção de que existem vias directas a Bruxelas que não têm necessariamente de passar pelo seu país e deu como exemplo a Catalunha: “Se estou em Barcelona e posso ir a Bruxelas por que razão tenho de ir a Madrid?”.

Mas na opinião de Paulo Rangel a “principal falha em termos de política europeia, dos últimos anos, do Estado português, é o Club Atlântico”. Uma vez que “nós não fomos capazes de fazer um clube como a Suécia, a Dinamarca, a Holanda, a Irlanda e, eventualmente, a Bélgica” para “defender uma posição própria contra o Brexit”, eventualmente “uma posição mais amiga do Reino Unido do que aquela que até agora tem aparecido na UE”. Porque a saída do Reino Unido significa que os países do Atlântico, onde se inclui Portugal, vão ficar “sem voz”. Por outro lado, defende uma união Ibérica é que, na sua definição, “Portugal é uma ilha rodeada de mar e de Espanha por todos os lados”.

Foto: Joaquim Morgado