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Alpinistas industriais reabilitam edifício “Franjinhas”

O Edifício “Franjinhas”, projectado por Nuno Teotónio Pereira, continua com alma disruptiva. O prédio situado em plena Rua Braamcamp, em Lisboa, vai ser reabilitado com recurso às melhores práticas actuais e, implementadas com recurso a alpinismo industrial com o objectivo de recuperar o brilho de outrora.

Em 1971 foi-lhe concedido o Prémio Valmor e, mais recentemente, a classificação de monumento de interesse público.

A obra de recuperação e reabilitação das fachadas e “franjinhas” de ensombramento foi preparada e será executada pela empresa Tabelabstrata. Com  características técnicas de elevada complexidade, tendo em conta a degradação do betão ao longo dos últimos 50 anos, a obra tem como objectivo a recuperação geral dos elementos em betão aparente de forma a remetê-las para o ano da sua construção. De acordo com o director da obra Miguel Centeno: “Prevê-se uma intervenção cheia de desafios, que decorrerá durante o primeiro semestre deste ano.  Devolver-se-á assim a glória e o esplendor ao “Franjinhas”, ícone lisboeta, num investimento que rondará os 300 mil euros”.

Para atender aos desafios técnicos que esta intervenção coloca, a Tabelabstrata seleccionou as empresas SIKA e RKESA. A primeira não só pelo seu empenhamento neste projecto em concreto, como também pela sua reconhecida experiência na comercialização de produtos específicos para a reabilitação de estruturas de betão armado. A REKSA por ser especialista na realização de trabalhos em altura, com expertise comprovada na área do alpinismo industrial.

A Família Franco Falcão, proprietária do edifício, tem como objectivo a valorização do seu imóvel através da reabilitação integral das fachadas e das emblemáticas “franjinhas”, em betão aparente, mostrando que é possível fazer o restauro deste edifício classificado em pleno funcionamento (a taxa de ocupação actual é de 100%). Procurou conjugar a implementação das melhores práticas como garantia da máxima qualidade da intervenção minimizando assim o impacto nos utilizadores e, sem obstruir com andaimes uma das zonas mais nobre e mais movimentadas de Lisboa.

De acordo com Ana Falcão, administradora da Casa Franco Falcão: “É muito gratificante ver o nosso edifício “Franjinhas” a ser reabilitado. No ano em que nasci este edifício estava a ser construído e, a direção da obra estava entregue a um engenheiro civil muito especial – o meu pai, Nuno Franco Falcão. Agora, 52 anos depois, a família Falcão faz este novo investimento que permitirá dar uma segunda vida ao edifício de que tanto gostamos”.

Nos anos 60 e 70 o boom do terciário leva a que comecem a surgir, na cidade de Lisboa, edifícios de escritórios comuns sem rasgo arquitectónico. No entanto, o “Franjinhas”, em nada foi comum e primou pela diferença, dado ter sido intenção de proprietários e projectistas “conferir ao edifício um carácter acentuadamente comercial e de serviços”.

É um edifício de desenho inovador, pela forma como o piso térreo se relacciona com a rua, sendo de certa forma o prolongamento da mesma nas galerias comerciais. As palas, que dão o nome ao edifício, não têm uma função ornamental, foram pensadas, desenhadas e feitas com base em estudos de laboratório, no LNEC, à escala natural, de modo a que a entrada da luz do sol nos pisos de escritórios seja feita de forma controlada proporcionando conforto e oferecendo fragmentos lúdicos de paisagem a quem está no interior. Inovadoras também foram as soluções técnicas e construtivas, uma vez que foi um dos primeiros edifícios em Portugal a oferecer pisos amplos em open space sem vigas salientes nos tectos. Construído entre 1966 e 1969, este novo marco arquitectónico contribuiu desde então para uma nova forma de pensar a arquitectura na zona Pombalina da cidade de Lisboa.